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"Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade". George Orwell

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Rolândia não tem mais água

Gerente da Sanepar afirma que Rolândia está com os pontos de captação em seu limite e não tem mais onde coletar água para servir a população

“Todas as previsões que vimos em relação à falta de água devido à poluição, o crescimento desordenado das metrópoles, o lixo, isso tudo já começou a acontecer, a água está cada vez mais escassa”, Luiz Alberto da Silva

Em uso da tribuna na câmara de vereadores de Rolândia, Luiz Alberto da Silva (Tuti), gerente da Sanepar unidade Arapongas, responsável pelo abastecimento de água em Rolândia foi claro quando na sessão da última segunda (02) declarou que o município não tem mais rios para abastecer a cidade.

Segundo ele na procura por resolver de forma paliativa o problema de falta de água em uma determinada região foram perfurados quatro poços artesianos no valor de 100 mil reais cada, porém todos deram produtividade menor de cinco mil litros por hora. “Inviável, pois isso não abastece sequer um bairro de Rolândia”, lamenta.

Tuti relata que a dificuldade para achar água é extremamente grande, pois os rios Ema e Jaú, que abastecem a cidade, estão no potencial máximo de captação de acordo com as outorgas emitidas pelos institutos ambientais. “Todas as previsões que vimos em relação à falta de água é devido à poluição, o crescimento desordenado das metrópoles e o lixo. Isso tudo já começou a acontecer, a água está cada vez mais escassa”, alerta.

De acordo com o gerente a única solução para o futuro das cidades da região metropolitana de Londrina será a captação através dos rios do Tibagi e Paranapanema. Segundo ele a previsão é que uma obra para viabilizar este projeto ainda demorará bastante para acontecer e ficará em torno de 30 milhões de reais para ser executada.

Conforme estudos de aproveitamento realizados pela empresa Gouveia Costa a solução paliativa para normalizar o abastecimento em Rolândia em um período de 15 a 20 anos será buscar água do Ribeirão Três Bocas. A captação em grande quantidade nesse ribeirão está prevista para levar a água in natura até uma estação de tratamento a ser construída no patrimônio rural Caramuru, e depois de tratada, abastecer Rolândia. Ainda parte deste produto será encaminhado direto para outra estação de tratamento em Arapongas bastecendo aquela cidade.

Bandeirantes é rio de descarte

“Chegamos ao fundo de um poço seco”, Daniel Steidle.
O ribeirão Bandeirantes do Norte, que corta Rolândia, antes era usado para abastecer a cidade mas hoje é desqualificado para a captação de água, pois é impróprio para o consumo sem condições de tratamento. O gerente da Sanepar, Luiz Alberto da Silva (Tuti) explica que o Bandeirantes recebe resíduo e dejetos de centenas de empresas de Arapongas e também de Rolândia como o caso da Big Frango que despeja seus afluentes nesse rio, além de chiqueiros e mangueirões das propriedades ao longo do rio que fazem o mesmo só que praticamente sem nenhum tratamento.

Tuti ressalta que talvez as autoridades não se interessem em recuperar esse rio, pois fazer todo o tratamento seria extremamente caro. “Essa água já vem imprópria desde Arapongas e recebe mais poluição quando chega a Rolândia”, afirma.

A reportagem do jornal MANCHETE DO POVO procurou o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), responsável pela fiscalização das empresas e propriedades rurais. A informação é que o Bandeirantes é considerado um rio classe 3 reservado para descarga de efluentes das empresas e não para abastecimento público.

Quem define isso é o Instituto das Águas e segundo o IAP os parâmetros das empresas que descartam os afluentes no Bandeirantes estão dentro das exigências do instituto. Quanto aos despejos de afluentes nos rios por parte das propriedades rurais o IAP informa que não tem condições de fiscalizar todos os municípios do Paraná e garante que qualquer cidadão pode ajudar fazendo uma denúncia que será devidamente averiguada.


Em contato com a assessoria da Big Frango a reportagem questionou sobre a declaração do Tuti. A empresa também foi questionada quanto a denúncia feita por uma fonte que informou sobre a uma possível perfuração de um poço artesiano feito pela Big Frango.

Este poço teria esgotado a possibilidade de novas perfurações na região para abastecer alguns bairros da cidade, pois a quantidade de água usada pela empresa é extremamente grande e pode estar inviabilizando o abastecimento de água de toda uma região.

Anderson Buss Cardoso, Gerente Ambiental do grupo Big Frango informou por nota que o Frigorífico da empresa realiza o lançamento do efluente devidamente tratado no Ribeirão Bandeirantes seguindo rigorosamente os padrões estabelecidos pela Legislação Estadual e constantemente monitorado pelo IAP. Segundo ele referente à captação de água subterrânea, o frigorífico possui todas as outorgas expedidas pelo Instituto das Águas do Paraná, o qual tem o conhecimento técnico necessário para liberação da vazão para o funcionamento da indústria de forma que não comprometa o aquífero.

Ambientalista faz alerta

Daniel Steidle, educador ambiental alerta que a população está sem opções para consumo de água, pois acima dos 600m não dá para pegar água do Aqüífero Guarani, o maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo que passa sob nossa região. Ele ressalta que o Bandeirantes está poluído, o Tibagi terá sete hidrelétricas e o Parapanema é muito longe, além da eminente falta de saneamento básico e tratamento adequado da água que piora mais a situação. “Mas o pior, é que a população está desligada do problema”, lamenta.

Steidle destaca que o Bandeirantes deságua no rio Paranapanema, que será a reserva futura de Rolândia segundo o gerente da Sanepar, Luiz Alberto da Silva (Tuti). Para o ambientalista é extremamente necessário recuperar o Bandeirantes e lembra que o rio Tibaji estava totalmente poluído pela fábrica de papel Klabin e depois de muito custo foi recuperado com apoio da própria empresa. “Hoje dá para nadar de novo no Tibagi porque a Klabin resolveu mudar. Todos os rios estão interligados e por isso não é admissível afirmar que o Bandeirantes é um local feito para descarga”, ressalta.

Como forma de explanar sobre o tema Daniel Steidle encaminhou um texto o qual segue publicado na íntegra.

­­­­­ Morrer de sede, pagar fortunas pela água ou arregaçar as mangas?
Na Sessão da Câmera dos Vereadores do dia 2 de dezembro ouvimos do Sr. Luis Alberto da SANEPAR sobre a situação preocupante da crescente falta de água em nossa região.
• O lençol freático profundo “Guarani” apresenta água imprópria, contaminada por flúor para Rolândia que se situa acima dos 600m.
• O Rio Tibagi, já é bastante disputado e ameaçado por mais 7 hidroelétricas;
• Rio Paranapanema, apontado com fonte futura, porém recebe o Rio Bandeirantes, considerado impróprio para consumo humano e tantos outros rios poluídos;
• O Rio Bandeirantes, colocado pelo técnico como “inviável” de ser recuperado se contradiz com exemplo de rios severamente poluídos e revitalizados como o Tibagi e o Tâmisa;
• Os Poços Artesianos, como no Conjunto Perazolo, muitas vezes estão sem água (4 de acordo com o técnico) contaminados ou de difícil localização e manutenção;
• O atual abastecimento de água entra em colapso quando há falta de eletricidade, desperdício e consumo exagerado;
• O Córrego “3 Bocas” mencionado pelo técnico como fonte para água de Rolândia e Arapongas já está sendo disputado por Londrina.
• Processos licitatórios levam a inúmeras paradas e abandonos de obra.
• A população desligada da problemática é somente animada a resolver a sua situação particular comprando caixas da água.
• Não é atacado o CERNE DO PROBLEMA: QUE É A POLUIÇÃO DA ÁGUA. Indústrias poluidoras, atividades agrícolas agressivas e expansão urbana desordenada.
• Há a inexplicável falta de fiscalização e controle da poluição.
CONCLUSÃO: É totalmente inadmissível aceitar crescimento e industrialização em Rolândia enquanto a questão básica da água não for RESOLVIDA DE FORMA COMPLETA E SUSTENTÁVEL.
A forma corrente de apenas “Tapar o sol com a peneira” forçosamente nos levara ao “fundo de um poço” seco. A água, um direito básico e essencial, passará a valer fortunas e criar dependências muito complicadas.
Seria bem mais fácil arregaçar as mangas agora e envolver toda a sociedade em torno do saneamento de nossos rios e riachos.

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