Em tempos de fartura no campo, resultado de super safras e/ou de altos preços no mercado, todos sobrevivem com folga e ninguém parece se estressar com quanto gastou para alcançar a boa colheita. Mas chega hora em que nada disso acontece e a corda começa a sufocar, começando pelos mais fracos. Alguns produtores têm a capacidade de reagir positivamente a essas circunstâncias desfavoráveis e buscam a saída mais lógica: incrementar a produção via aumento da produtividade ou manter a produção com a redução de custos.
A produtividade pode ser aumentada com a utilização de mais e melhores tecnologias e o custo de produção menor poderá ser alcançado com o uso mais racional dos insumos, o que, eventualmente, se obtém com a utilização de menos e não de mais
fertilizantes e pesticidas.
Outros produtores, infelizmente, não conseguem dar essa volta por cima e sucumbem nas dívidas impagáveis de empréstimos bancários, consequência da queda nos preços de mercado dos produtos que comercializam ou da safra menor, como resultado da baixa produtividade.
Mas, em tempos de vacas magras, nem mesmo produzir bem é suficiente, precisando, ademais de obter altas produtividades a baixo custo, conseguir renda adicional com a estratégia de compra dos insumos e das máquinas e venda da produção.
Para sobreviver em tempos de carestia, a grande maioria dos produtores rurais precisa de assistência técnica, principalmente quando a área que exploram é pequena e a atividade que desempenham resulta em produtos de pouco valor agregado (produção de grãos, por exemplo). Nessas circunstâncias, a produção de grãos pode não compensar, visto que a economia de escala das grandes fazendas as tornam capazes de produzir grãos de forma muito mais barata. Os produtores com menores áreas precisam ser reconvertidos para continuar ativos no campo, aprendendo a realizar atividades mais rentáveis. Nesses casos, a produção de grãos poderá continuar apenas como atividade auxiliar do negócio principal, que poderia ser a criação de suínos e de aves ou a produção de frutas, de hortaliças e de leite.
Na falta desse apoio, esses agricultores sucumbem e são estimulados a migrar para a cidade na busca do ilusório sonho de bem estar urbano mostrado pelas novelas, o qual, muito provavelmente, termina em desilusão e pesadelo para toda a família.
Não qualificados para as atividades urbanas, esses migrantes, via de regra, só encontram subempregos na cidade, dada a falta de aptidão para ocupações que pagam melhor. Acostumados com a abundância de comida que eles mesmos produziam no campo, esses pacíficos agricultores poderão transformar-se em violentos cidadãos urbanos, quando até o alimento escassear no seu novo e desconhecido habitat. Se não eles, seus filhos poderão buscar a via da delinquência para sobreviver.
Seria mais barato investir no agricultor para estimulá-lo a permanecer na zona rural (como fazem os governos da Europa e dos EUA), do que solucionar posteriormente os seus problemas na cidade, onde ele não é desejado, porque resulta em fardo para as administrações das cidades que os recebem.
Longe de pretender intuir que quem nasceu na roça deva lá ficar por toda a sua vida, mesmo porque, eu sou um dos que saíram do campo e se deu bem na cidade.
Muitos outros fizeram o mesmo e estão usufruindo de conforto e bem estar na cidade. Mas há os que saíram forçados da roça pela absoluta falta de perspectivas de uma vida digna e não tinham um projeto de vida na cidade. Hoje sobrevivem com dificuldades na periferia de alguma cidade e sonham com a boa vida que deixaram para trás. Seria desejável que todo o cidadão pudesse escolher o lugar onde desejaria viver.
Amélio Dall’Agnol é pesquisador da Embrapa Soja
Fonte: Folha de Londrina / Folha Rural
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